Como pais, responsáveis e professoresconta demo jogo do tigre, muitas vezes temos a tendência de basear nossa avaliação do desenvolvimento infantil dentro do que compreendemos como sendo "normal".
Muitas vezes, fazemos isso sem pensar, quando destacamos que uma criança está "se saindo bem" em um tema e "atrasada" em outro.
Sempre que fazemos este tipo de comparação, temos algum tipo de referência ou parâmetro em mente. Um bebê deve conseguir escalar a mobília, por exemplo, com dois anos de idade.
![Um grupo muito diversificado de crianças sentadas em cima do muro](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2025/01/19/1737290227678cf1f3897cc_1737290227_3x2_md.jpg)
Mas os pesquisadores defendem cada vez mais que o mesmo acontece nas pesquisas sobre o desenvolvimento infantil —o estudo do desenvolvimento do comportamento e habilidades das crianças, como a linguagem.
Muitos estudos que afirmam pesquisar o desenvolvimento infantil defendem, de forma implícita ou explícita, que suas conclusões são universais. Isso pode ter diversas razões.
Às vezes, existe a tentação de promover exageradamente as conclusões dos estudos. Às vezes, pode ser a forma de interpretação das descobertas pelos leitores ou pela imprensa.
O resultado é que aquilo que é encontrado em um grupo de crianças é considerado o padrão —o parâmetro de comparação para as pesquisas futuras.
Mas a maior parte das pesquisas sobre o desenvolvimento infantil vem dos países ricos do Ocidente, particularmente os EUA, Reino Unido, Holanda, Alemanha e França. Ou seja, se você já ouviu falar em etapas definidas do desenvolvimento infantil, provavelmente elas foram definidas em um destes países.
Tanto é verdade que pode ser difícil realizar pesquisas básicas sobre o desenvolvimento infantil em países em desenvolvimento. Os pares e revisores irão pedir ou até exigir comparações com populações ocidentais, para colocar as descobertas destas regiões dentro do contexto.
Fica claro que, sem perceberem, esses pares e revisores definiram que as crianças ocidentais são o padrão. Mas é justo fazer estas comparações?
![Uma menina indígena olha para a câmera, com a família ao fundo, mas fora de foco](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2025/01/19/1737290548678cf334ac752_1737290548_3x2_md.jpg)
Uma das complicações das pesquisas sobre o desenvolvimento infantil é o fato de que elas ocorrem dentro de um contexto sociocultural que não pode ser desconsiderado.
Mas este contexto, muitas vezes, é confuso. Existem diferenças de ambientes físicos, estilos de criação de filhos, localização, clima... E todos estes fatores interagem para definir a forma de crescimento das crianças.
Além destas diferenças, existem também as variações individuais, que podem ser, por exemplo, a curiosidade, a timidez e a neurodiversidade. Todas elas podem definir como a criança forma seu próprio ambiente de aprendizado.
Vamos tomar como exemplo o campo do desenvolvimento motor na infância, que estuda como as crianças aprendem a se movimentar.
Muitos pais talvez conheçam os gráficos que mostram quando eles podem esperar que seus filhos se sentem, engatinhem, fiquem de pé e corram. A existência desses gráficos faz com que eles pareçam quase universais e, muitas vezes, o desenvolvimento motor das crianças é analisado de acordo com eles.
Isso faz sentido. As primeiras pesquisas se preocupavam em descobrir o que era normal, e faz sentido tentar apoiar crianças que estejam correndo o risco de ficar para trás.
O momento e a ordem investigados naquela época geraram as normas e escalas que ainda usamos hoje em dia. Mas será que o tempo de desenvolvimento motor é algo universal?
É fácil imaginar que poderia ser. Quando não existem barreiras físicas ou cognitivas, todos nós aprendemos a sentar e ficar de pé. Por isso, superficialmente, parece razoável dizer que sim.
Mas acontece que o contexto de desenvolvimento das crianças exerce enorme influência, mesmo sobre algo aparentemente universal.
Em países e culturas em que os bebês recebem rotineiramente massagens firmes dos seus cuidadores, como na Jamaica, o desenvolvimento motor é acelerado. Fica claro, portanto, que uma norma desenvolvida em uma cultura pode não ser bem traduzida para outra.
Além das normas![Uma professora ajuda um menino na escola](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2025/01/19/1737290764678cf40ce3490_1737290764_3x2_md.jpg)
É claro que os problemas destacados acima não são exclusivos do desenvolvimento motor. Em áreas como o desenvolvimento social ou da linguagem, o componente cultural é ainda mais determinante.
Simplesmente não há forma de compreender estes elementos do desenvolvimento infantil sem também entender o contexto em que eles ocorrem.
Cada criança se desenvolve dentro de um contexto e, por mais normal que a nossa cultura pareça para nós, não existe norma objetiva livre de contexto para podermos comparar outras crianças.
Ou seja, precisamos abraçar o caos.
![fortune tiger](/images/0065.jpg)
Se pensarmos no desenvolvimento infantil normal como sendo algo que simplesmente acontece, os pesquisadores deixarão de compreender a dinâmica do desenvolvimento propriamente dita.
Mas o pior é que os educadores e cuidadores podem não perceber que podemos influenciar o desenvolvimento, perdendo a oportunidade de promover mudanças.
![Duas meninas brincando com um foguete](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2025/01/19/1737290839678cf457ea6be_1737290839_3x2_md.jpg)
Uma parte importante da observação do desenvolvimento infantil interligado à cultura é não se restringir apenas a coletar dados de outras culturas. É preciso envolver as comunidades locais e as perspectivas de pesquisa.
Compreender as comunidades significa ouvi-las, empoderá-las e abrir espaço para que elas tenham voz.
Sair do conhecimento do desenvolvimento infantil concentrado no Ocidente servirá não só para beneficiar os pesquisadores e gerar maior precisão na ciência. Esperamos que também possa beneficiar a todos os que trabalham com crianças, em todo o mundo.
Samuel Forbes é professor de psicologia da Universidade de Durham, no Reino Unido.
Prerna Aneja é professora de psicologia da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
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